Marxismo e teoria das classes sociais
Cristiano Lima Ferraz*
RESUMO:
O presente artigo discute a teoria das classes sociais e o processo de constituição do operariado com base na problemática marxista. Com este objetivo, estabelece o debate com algumas correntes da tradição weberiana e com correntes economicistas existentes no seio próprio marxismo. Por fim, apresenta parte de um estudo de caso sobre o processo de constituição do operariado em classe.
PALAVRAS-CHAVE: Classes sociais. Marxismo. Operariado.
INTRODUÇÃO
Na medida em que milhões de famílias camponesas vivem em condições econômicas que as separam umas das outras, e opõem o seu modo de vida, os seus interesses e sua cultura aos das outras classes da sociedade, estes milhões constituem uma classe. Mas na medida em que existe entre os pequenos camponeses apenas uma ligação local e em que a similitude de seus interesses não cria entre eles comunidade alguma, ligação nacional alguma, nem organização política, nessa exata medida não constituem uma classe (Karl Marx, O 18 Brumário de
Luis Bonaparte).
Quando um observador se depara com um grande número de operários reunidos, em fábricas ou em outras situações, ou quando se dedica à pesquisa sobre a história dos trabalhadores, a problemática política e teórica acerca das classes sociais e da organização em classe do operariado entram pela porta da frente. A percepção do conjunto coloca para o pesquisador o risco de, a priori,
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Professor da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb). Doutor em Ciência Política pela
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). E-mail: clf-ferraz@uol.com.br.
Politeia: História e Sociedade
Vitória da Conquista
v. 9 n. 1
p. 271-301
2009
Cristiano Lima Ferraz
identificar os trabalhadores como integrantes de uma mesma classe social. Mas, no debate que se trava dentro da tradição marxista, embora os trabalhadores estejam em uma mesma situação, no tocante às relações