Mario Sergio Cortella’
OUTUBRO DE 2013 Em entrevista exclusiva à diretora de Redação do site Responsabilidade Social.com, Daniela Guima, o pensador e filósofo Mario Sergio Cortella traça um cenário da atualidade e passeia por termos como ética, moral e responsabilidade social.
Disponível em: Acesso em: Set. 2013.
1) N Respostas – No país do jeitinho, como atuar com ética e moral dentro das empresas e fora delas, especialmente em negociações com a esfera governamental?
Mario Sergio Cortella – A gente pode olhar o jeitinho de dois modos: o jeitinho como flexibilidade e o jeitinho como infração ética. No caso da flexibilidade, é a condição de adaptação em situações que seriam impossíveis ou de improvável solução. Aliás, nos 200 anos de nascimento de Charles Darwin, a ideia de jeitinho entendido como flexibilidade é uma coisa extremamente positiva. Afinal, Darwin nunca disse que a sobrevivência era do mais forte. Ele disse que era do mais apto, isto é, do mais flexível. Portanto, nós não podemos demonizar aquilo que para nós é o jeitinho, pois ele também favorece parte da nossa adaptabilidade e da nossa inventividade.
Mas existe uma parte do jeitinho que é a infração ética, que é a fragilidade de princípios e, mais do que isso, a intenção de desviar de pegar atalhos, ao invés de seguir caminho que é correto, certo, socialmente admitido. Quando nós olhamos a ideia do jeitinho como infração ética, ele é extremamente negativo, porque ele enfraquece as nossas instituições, a nossa vida coletiva e mais do que isso, ele quebra as nossas pontes para um futuro mais sólido.
Por outro lado, quando a gente pensa na relação Estado–População, ou seja, Governo–Povo, é evidente que há uma tendência, quase que psicanalítica, de apontar o Estado, o poder público como sendo o guardião da ética. Mas é exatamente o inverso. A guarda da ética tem que ser feita pela população que escolhe o poder público. Isso significa que há um dado que passa pelo cinismo. Um cidadão ou cidadã