Marc Bloch - A Apologia a História ou o Ofício do Historiador (Introdução)
"Papai, então me explica para que serve a história." Assim um garoto, de quem gosto muito, interrogava há poucos anos um pai historiador. Sobre o livro que se vai ler, gostaria de poder dizer que é minha resposta. Pois não imagino, para um escritor, elogio mais belo do que saber falar, no mesmo tom, aos doutos e aos escolares. Mas simplicidade tão apurada é privilégio de alguns raros eleitos. Pelo menos conservarei aqui de bom grado essa pergunta como epígrafe, pergunta de uma criança cuja sede de saber eu talvez não tenha, naquele momento, conseguido satisfazer muito bem. Alguns, provavelmente, julgarão sua formulação ingênua. Parece-me, ao contrário, mais que pertinente. O problema que ela coloca, com a incisiva objetividade dessa idade implacável, não é nada menos do que o da legitimidade da história1.
Eis portanto o historiador chamado a prestar contas. Só se arriscará a isso com certo estremecimento interior: que artesão envelhecido no ofício não se pergunl
Nota de Marc Bloch: "A respeito do que oponho-me, desde o início e sem o ter buscado, à Introdução aos estudos históricos de Langlois e Seignobos. A passagem que se acaba de ler já estava escrita há muito tempo, quando me caiu sob os olhos, na
Advertência dessa obra (p.XII), uma lista de 'perguntas ociosas'. Ali consta, textualmente, a seguinte: 'Para que serve a história?' Sem dúvida ocorre com esse problema o mesmo que com quase todos os que concernem às razões de ser de nossos atos e nossos pensamentos: os espíritos que lhes permanecem, por natureza, indiferentes, ou que voluntariamente decidiram por tal postura, dificilmente compreendem que outros espíritos vejam nisso o tema de reflexões apaixonantes.
Entretanto, uma vez que a ocasião me é assim oferecida, vale mais, creio, fixar desde já minha posição a respeito de um livro justamente notório, ao qual o meu, aliás, construído sobre outro plano e, em certas de suas partes, muitos menos desenvolvido, não pretende de