Maio de Maias
Cena 1 - Na Rua (Alencar surge em primeiro plano)
Alencar - Nesta cortina da memória, mostro-vos um pedaço de história.
Cena 2 - Café (Alencar volta-se e vislumbra Afonso da Maia sentado numa esplanada)
Alencar - Velho Afonso ! Como está o meu amigo ? Coincidência encontrá-lo por estas bandas ...
Afonso - Alencar, meu bom amigo ! Apanhaste-me perdido em pensamentos, rememorando ao acaso ... Enfim, tanto que me preocupa ...
Alencar (interrompendo Afonso) - Estais falando de Pedro e daquele estado deplorável em que o rapaz se encontra, certo ?
Afonso - Ora bem. Desde a morte da mãe que o sinto perdido, sem rumo algum, parece-me até - e perdoa-me pelo que vou dizer - que perdeu a alegria de viver ...
Alencar - Ah ... O que ele precisa é de sair e viver ... Descobrir o mundo, interagir, cultivar-se junto das gentes ...
Afonso - Talvez ... Alencar, tu, enquanto amigo do meu filho, podias levá-lo contigo a esses salões, bailes e clubes que costumas frequentar ...
Cena 4 - Café (Pedro da Maia surge deambulando sem reparar em Alencar e Afonso)
Alencar - Veja quem lá vem ! É o seu filho ! Pedro ! Pedro !
(Pedro olha em volta e encontra Alencar) Junta-te a nós !
Pedro (apático) - Ah ... Nem vos via ... Pai (beija-o na testa) ... Tomás (abraça-o) ... O que fazem por aqui ?
Afonso - Meu filho, bem notei que não nos havias visto ... Nem mesmo eu te vira se não fosse aqui o Alencar e o seu monóculo de Águia !
Alencar - Já dizia Erasmo de Roterdão: aquila non capit muscas
Pedro - Bem, gosto em ver-vos, mas vou indo ... Tenho afazeres ...
Afonso - Muito me interrogo sobre esses teus afazeres ...
Alencar - Não vás já ! Os teus afazeres, decerto, que podem esperar !
Afonso - Exatamente ... Os círios que teimas em deixar acesos em memória de tua mãe podem, muito bem, ser alumiados mais tarde ...
Pedro - Meu pai, por favor ! Peço-lhe que respeite o meu luto ...
Alencar - Afonso tem razão ... Senta-te.
Pedro