Língua e Sociedade
Este “uso da língua como discurso” é, em síntese, o que se vem denominando letramento; o que se propõe aqui é que, contemporaneamente à aprendizagem dos sistemas alfabético e ortográfico, a criança desenvolva também habilidades de uso desses sistemas em práticas sociais de escrita (p. 105).
Para ilustrar essas muitas facetas da aprendizagem, em Articulando concepções e práticas, como é assim intitulada a parte final do seu livro, Soares retoma o artigo “Paulo Freire e a alfabetização: muito além de um método” (de
1998), a fim de resgatar a indissociabilidade entre concepções e práticas, considerando o trabalho desse autor como um dos que mais expressa essa integração.
A autora considera uma redução considerar o trabalho de Freire como estritamente ligado a um método de alfabetização de adultos. Para ela, Paulo Freire criou uma concepção de alfabetização inserida numa nova concepção de educa- ção, “(...) uma concepção de educação como prática da liberdade, educação como conscientização; e disso, realmente, foi ele o inventor” (p. 119). Assim,
Soares aponta que, ao selecionar palavras geradoras que surgem de temas geradores, a proposta de Freire procura abranger situações existenciais dos alfabetizandos, além de enfatizar também a aprendizagem das relações fonemagrafema.
Segundo a autora, “(...) é uma concepção que põe o método a serviço de uma certa política e filosofia da educação (...)” (p. 120). Dessa forma, Freire valeu-se de métodos de alfabetização já existentes, concebendo-os em suas dimensões política e ideológica. Com a discussão dos estudos de Paulo Freire, um dos maiores pensadores da alfabetização e da educação em nosso país, a autora finaliza a reapresentação desse conjunto de artigos e conferências escolhidos para compor o livro ora examinado, posicionando-se claramente na perspectiva das teorias críticas da educação. Nesse sentido, a autora limita a discussão sobre cultura ao