Luiz Werneck Vianna
Luiz Werneck Vianna
“No Brasil nunca houve, de fato, uma revolução, e, no entanto, a propósito de tudo fala-se dela”
Revolução da Independência, Revolução de 1930, Revolução de 1964, todos acostumados a uma linguagem de paradoxos em que a conservação, para bem cumprir o seu papel, necessita reivindicar o que deveria consistir no seu contrário a revolução.
O Brasil chega à modernização em compromisso com o seu passado e pode ser caracterizado como o lugar por excelência da revolução passiva.
A história da ruptura com o pacto colonial, do processo da Independência e da formação de um novo Estado-nação, diferiu das características de um típico processo revolucionário nacional-libertador, abortado, no caso brasileiro, pelo episódio da transmigração da família real, quando a Colônia acolhe a estrutura e os quadros do Estado metropolitano.
Se as revoluções passivas européias têm a sua origem no rastro do ciclo revolucionário de 1789 a 1848, tal como no estudo clássico de Gramsci sobre o Risorgimento italiano, a mesma raiz está presente na formação do Estado-nação no Brasil a transmigração da família real portuguesa para a Colônia é devida a um movimento defensivo quanto à irradiação, sob Napoleão, da influência da Revolução Francesa.
Mas esse movimento defensivo era, por natureza, ambivalente: o que significava conservação na metrópole importaria conservação-mudança na Colônia.
A radical ambigüidade do Estado entre o liberalismo e a escravidão devia se resolver nele mesmo, delegando-se ao futuro a tarefa de vencer a barbárie de uma sociedade fragmentária.
Se, na sociedade civil, o liberalismo atuava como "fermento revolucionário", induzindo rupturas moleculares na ordem senhorial-escravocrata, ele não poderia se comportar como o princípio da sua organização, sem acarretar com isso o desmonte da estrutura econômica, fundada no trabalho escravo e no exclusivo agrário e que assegurava ao