Luandino Viera
Meu Caro Wormwood: (Absinto)
Vejo, com muito desgosto que sua vítima tornou-se um cristão. Nem por sonho alimente a esperança de que poderá escapar aos castigos normais; com efeito, em seus melhores momentos, espero que você nem mesmo pense em tal coisa. Enquanto isso é preciso que façamos o possível para remediar essa situação tão indesejável. Não é necessário cairmos no desespero, conta-se por centenas esses convertidos em idade adulta que foram reconquistados, depois de uma breve estada nos arraiais do Inimigo e agora se encontram conosco.
Todos os hábitos do paciente, tanto intelectuais quanto físicos, estão ainda a nosso favor. Aliás, um dos maiores aliados que temos hoje é a própria Igreja. Não me interprete mal. Não me refiro à pestilenta Igreja que vemos difundida através dos séculos por toda parte com suas raízes na Eternidade, terrível como um invencível exército com suas bandeiras. ESSE espetáculo confesso que traz insegurança e inquietação aos mais corajosos entre nós. Para nossa sorte, ESTA Igreja é inteiramente invisível aos olhos humanos. Tudo que seu paciente pode contemplar é o prédio inacabado, (pretendendo um estilo gótico) em seu bairro novo. Entrando ali, o paciente vê o dono da quitanda local, com uma expressão de bem-aventurança no rosto, e que se apressa em lhe oferecer um livrinho já bem gasto contendo uma liturgia que ninguém consegue entender mais, e mais um outro livrinho caindo aos pedaços que contem vários textos (corrompidos, por sinal) de poemas religiosos (a maioria, péssimos) e ainda por cima, impressos em letra miúda (chego a pensar que nós os escrevemos) de forma a dificultar ao máximo a leitura. Ao assentar-se num dos bancos e olhar ao redor, o paciente vê justamente os vizinhos que até então evitara.
Você deverá acentuar bem na imaginação do paciente alguns detalhes daqueles vizinhos. Faça com que sua mente fique a flutuar entre uma expressão como o corpo de Cristo e os rostos concretos que