Lua de joana
Maria Teresa Maia Gonzalez
A edição desta obra foi patrocinada pelo Projecto
Vida e teve o apoio da TVI - Televisão Independente
Para o meu tio Augusto
(que teve sempre tempo) e para todas as Joanas e Joões que se cruzaram comigo nas escolas.
Lisboa, 28 de Agosto de 1992
Querida Marta,
Demorei muito para me resolver, o que não era costume. Para dizer a verdade, não sabia que fazer. Precisava de desabafar, tentar compreender tudo o que aconteceu e, como foste sempre a minha única confidente... Não fazia sentido escrever um diário, pois dava-me a sensação de estar a escrever para mim própria, o que acho um bocado estranho. Talvez seja ainda mais estranho escrever-te, mas é uma forma de manter viva a tua memória, pelo menos até entender o que se passou contigo; pelo menos até conseguir perdoar-te...
Faz hoje um mês que tu... Não sou ainda capaz de dizer a palavra. Se calhar, é porque não acredito que já não estás aqui comigo. É tão difícil de acreditar!
Como sabes, hoje fiz anos. São duas da manhã e estou demasiado excitada para dormir. Vou contar-te o que recebi. A minha mãe acedeu finalmente em redecorar o meu quarto - está tal e qual como eu queria! Todo branco (paredes, tapete, colcha, cortina) e até me mandou fazer o baloiço dos meus sonhos: é uma meia-lua de madeira (branca, claro) que está suspensa do tecto por uma corrente, mesmo no meio do quarto. É única no Mundo! Fui eu que a imaginei. Quando quero pensar, coloco-a em posição de quarto crescente e, quando estou triste, rodo-a para quarto minguante e sento-me até que a tristeza passe. O armário velho foi para o corredor, assim, fiquei com mais espaço para dançar, quando me apetece. Das antiguidades só ficou a escrivaninha, por causa daquelas gavetinhas todas que sempre me deram um jeitão para os segredos. Sei que acharias demais, mas também foi pintada de branco! à minha mãe tudo isto pareceu um bocado exótico, mas foi forçada a comparar as