Lolita
Lolita está entre os melhores romances do século XX. Não raramente, aparece nas cabeceiras, na primeira posição. Difícil imaginar carreira tão brilhante para um livro que, antes de ser lançado, fora recusado por quatro editoras norte-americanas. Lançado há quase 50 anos, Lolita gerou uma verdadeira indústria, inspirando debates, criações de artigos, teses de mestrado e doutorado, o surgimento de outros livros de análise literária e dois filmes. Algo bastante curioso em relação ao vocabulário, é que o autor deixou a várias línguas duas palavras que servem para designar aquelas adolescentes iluminadas por uma sensualidade “diabólica”: "ninfeta" e o próprio nome da personagem principal. O romance trata de um tema bastante polêmico, pois envolve questões morais e sociais sobre a sexualidade e inocência, indo contra princípios vigentes numa época conservadora.
A história de Lolita começa, na verdade, com Annabel, a primeira namorada de Humbert a quem conheceu na Riviera Francesa, durante umas férias. Alguns meses depois da partida, ela ficou doente e morreu. Somente após vinte e cinco anos, ao ver Lolita, voltou a se apaixonar. Mas, nesse momento em que a viu pela primeira vez, foi Annabel que ele reencontrou. E, diz ele, todos esses anos “reduziram-se a um ponto latejante, e se desvaneceram” (Nabokov, 1955/2003, p. 41).
A figura do narrador e o enredo são os componentes que dão marca à obra Lolita. O livro, escrito em primeira pessoa, leva o leitor a contestar a veracidade dos acontecimentos, uma vez que o narrador-personagem interfere em seu julgamento. Tem-se conhecimento das demais personagens e ações segundo a visão idealizada de Humbert, o pedófilo. Ao fim do texto, o autor insere uma nota bastante esclarecedora, contando alguns detalhes sobre a gestação da obra e dos problemas que enfrentou quanto aos moralismos e tendências literárias. Ele comenta que as editoras davam preferência aos livros banais que mantinham a mente das pessoas sob certo