Loira

ARCÁDIA E ILUSTRAÇÃO
DOIS MOMENTOS: O POÉTICO E O IDEOLÓGICO

A passagem do Barroco ao barocchetto e ao rococó foi um processo estilístico interno na história da arte do século XVIII e consistiu em uma atenuação dos aspectos pesados e maciços dos seiscentos. Nessa viragem prefeguram-se as tendências estéticas do Arcadismo com a busca do natural e do simples e a adoção de esquemas ritimicos mais graciosos, entendendo-se por graça uma forma especifica e menor de beleza. A Arcádia enquanto estilo melífluo, musicalmente fácil e ajustado a temas bucólicos, não foi criado do século de Metastasio: retomou o exemplo quatrocentista de Sannazaro, a lira pastoril de Guarani ( II Pastor Fido) e, menos remotamente, a tradição anticultista da Itália que se opôs à poética de Marino e as vozes que na Espanha se haviam levantado contra a idolatria de Gôngora. Importa distinguir dois momentos ideais na literatura dos Setecentos para não se incorrer no equivoco de apontar contrastes onde houve apenas justaposição: o momento poético que nasce de um encontro, embora ainda amaneirado, com a natureza e os afetos do homem, refletidos através da tradição clássica e de formas bem definidas, julgadas dignas de imitação (Arcádia). A medida que se prossegue no tempo, vai-se passando de um arcadismo tout court (Os sonetos de Cláudio Manuel da Costa, por exemplo) ao engajamento pombalino da épica de Basília da Gama, para chegarmos enfim à sátira política. Denominador Comum das tendências arcádias é a procura do verossímil. O conceito, herdado da poética renascentista, tem por fundamentos a noção de arte como cópia da natureza e a idéia de que tal mimese se pode fazer por graus. Já os primeiros teóricos da arcádia propunha mediações entre o natural nas suas fórmulas áureas de bom gosto. Para Gian Vicenzo Gravina, cujo tratado Della Ragion Poetica de 1708, a fantasia deve joeirar os dados da experiências a fim de apreender a natureza última das coisas (A Idéia Platônica), que