Livro
E há que se falar em poeticidade da narrativa, expandindo o que se poderia esperar de uma “poeticidade da linguagem”, pela maneira como Ronaldo Correia de Brito constrói seus contos, sempre arquitetados em estruturas temporais que colocam a fala do narrador em um interstício de presente e passado, articulando tempos e espaços de modo a manter em suspenso o ponto que sustenta cada narrativa, resvalando em desfechos quase sempre trágicos em que o ponto final alinhava o silêncio do absurdo da vida ao sentido morte.
É o que ocorre em “O que veio de longe”, conto sobre um homem chamado Sebastião - santo inventado pela fé dos habitantes de um povoado de passagem no sertão brasileiro. Este conto abre o livro e narra a história de um corpo levado pela enchente do rio Jaguaribe até o povoado de Monte Alverne, onde foi enterrado pela pequena população, ao lado de uma oiticica que servia de sombra e pouso para quem conduzia seus rebanhos. A história do corpo transforma-se em trajetória do homem na medida em que