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RESUMO
O artigo apresenta uma discussão a respeito dos elementos teóricos que tornam possível a abordagem do fenômeno da ilegibilidade na escrita de uma criança como sintoma clínico.
Para tal, pretende articular, em um fragmento clínico, as questões referentes à letra alfabética em sua vertente imagética e à instituição da imagem do corpo como próprio. Assim, a escrita, enquanto fato de linguagem, poderia situar uma formação sintomática referida à estruturação da imagem do corpo.
Descritores: escrita; sintoma; imagem; ilegibilidade.
ESCRITA ILEGÍVEL: O
QUE NÃO SE PODE
LER NO QUE ESTÁ
ESCRITO
Ilana Katz Zagury Fragelli
“ Me vejo no que vejo.
É como ter em meus olhos, os olhos mais límpidos.”
(Octavio Paz, versão de H. Campos, 1986)
N
o discurso da mãe, Lucas aparece como um menino que, aos 9 anos, tem poucos amigos, e, apesar de muito inteligente, apresenta problemas escolares. “Sua letra é muito feia, não dá para entender o que ele escreve”. Ela se pergunta ainda se há relação entre a precariedade aparente de seus desenhos e a ilegibilidade da letra.
Muito rapidamente a mãe conta a história do garoto. Ela parece querer manter as coisas fechadas, pouco disponíveis às questões que minha escuta pode recortar em sua fala. O único ponto em que se estende é quando fala a respeito do nascimento do fi-
Psicanalista, membro do Núcleo de Estudo e Pesquisa em
Psicanálise com Crianças, doutoranda da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (LEPSI IP/FE-USP).
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Dossiê lho. Por conta de uma má avaliação de seu obstetra, o parto foi atrasado por alguns dias, o que ocasionou sofrimento fetal. A circunstância perinatal toma muito tempo da fala de uma mulher que, em outros pontos, é bastante condensada. Na revista Scilicet 6/7 (1976), um grupo de analistas observa que o parto, bem como a menstruação ou a