Livro
Marcelo Cezar
Espírito: Marco Aurélio
CAPÍTULO 1
Era meio da tarde de um dia quente e abafado, bem típico de verão. Fazia dias que não caía uma gota de água e a sensação térmica nas ruas era infinitamente maior do que a exibida nos termômetros espalhados pela cidade.
Edgar encostou o carro na calçada, apertou o botão do pisca - alerta e desceu. Nem ligou para o sopro quente e conseqüente suor que começava a escorrer pela testa tão logo abrira a porta do veículo. Ele sorriu para si e deu de ombros. Estava feliz. Era um dia especial e ele havia se esquecido das rosas vermelhas - as preferidas de sua esposa.
— Denise vai adorar a surpresa! - murmurou enquanto caminhava em direção a uma das bancas de flores espalhadas ao longo dos muros do cemitério do Araçá. Até poderia parecer algo mórbido comprar flores para a amada nas banquinhas que ficam encostadas no muro que circunda um cemitério, no entanto, o local é bem freqüentado e é costume do paulistano comprar flores nessas bancas, não importa a ocasião, pois elas funcionam todos os dias da semana, sem fechar, além de oferecerem flores sempre bonitas, fresquinhas e o preço ser bem em conta.
Edgar escolheu rosas vermelhas colombianas, aquelas com pétalas grandes e cores bem vivas. Apontou para o vaso e disse:
— Quero uma dúzia dessas.
— Quer que embale para presente?
— Não, é um arranjo que eu mesmo vou fazer para a minha esposa - respondeu ele, largo sorriso nos lábios.
Assim, apanhou o ramalhete de rosas, pagou a atendente e saiu feliz. Não se importava com o calor insuportável, cujo relógio ali perto, na esquina da Rua Cardeal Arcoverde, marcava inacreditáveis 36 graus.
A atendente suspirou e fechou os olhos enquanto se abanava com um leque.
— Que homem romântico! Como eu queria um desses na minha vida.
— Feio isso, Berenice - protestou, num tom de brincadeira, a senhora da banca ao lado.
— Você é casada, dê-se ao respeito!
— Casada com um homem nada romântico!