Livro
Os milagres podem ser provados?
Sócrates e Thomas Keptic estão saindo da primeira aula do professor Flatland [Tábua Rasa], do curso de Ciências da Religião.
Thomas: E então, Sócrates, o que achou da aula? Foi brilhante, não foi?
Sócrates: Sim, realmente foi!
Thomas: Então, por que parece tão desapontado?
Sócrates: Aulas brilhantes quase sempre me frustram, não por serem brilhantes, mas por serem aulas.
Thomas: Ah, acho que entendo. Você preferiria o método socrático, exato?
Sócrates: Sim, porque perco a oportunidade de perguntar ao professor algumas questões que me tiram a paz.
Thomas: E por que não fez nenhuma pergunta?
Sócrates: Achei que não seria apropriado interromper uma aula tão brilhante.
Thomas: Você está ironizando?
Sócrates: De jeito nenhum! A aula me ajudou a entender um aspecto importante dos 2.386 anos de história do pensamento humano que perdi. Achei excelente ouvi-lo discorrer com brilhantismo por séculos como esses. Oh, gostei demais da aula dele, tudo certo, mas fiquei decepcionado porque a questão mais importante referente à relação entre ciência e religião nem sequer foi tocada.
Thomas: Como pode dizer isso? Você não sabe coisa alguma do que aconteceu nesses 2.386 anos. O professor Flatland abordou todos os desenvolvimentos importantes.
Sócrates: Pode ser que sim, mas a questão de que senti falta não tem a ver com desenvolvimento.
Refiro-me à verdade. Certamente, é mais importante saber se o que alguém diz é verdadeiro ou falso, que saber quando ou para quem disse.
Thomas: Tenho certeza de que o professor estaria disposto a discutir qualquer questão com você, 36 | P á g i n a
Sócrates. Talvez, mais tarde, no decorrer do curso.
Sócrates: Espero que sim.
Thomas: Você não parece muito esperançoso.
Sócrates: Para ser franco, acho pouco provável que minha expectativa se cumpra.
Thomas: Por quê?
Sócrates: Porque essa expectativa depende de dois acontecimentos pouco prováveis: o professor mudar o