Livro
FRANCISCO DE OLIVEIRA
A E C O N O M I A BRASILEIRA: CRITICA A R A Z Ã O DUALISTA
(*) Este ensaio foi escrito como uma tentativa de resposta às indagações de caráter interdisciplinar que se formulam ao CEBRAP, acerca do processo de expansão sócio-econômica do capitalismo no Brasil. Beneficia-se, dessa maneira, do peculiar clima de discussão i n t e l e c t u a l que é apanágio do CEBRAP, a cujo corpo de pesquisadores pertence o autor. O autor agradece as críticas e sugestões dos seus colegas, p a r t i c u l a r m e n t e a José A r t h u r Gianotti, F e r n a n d o Henrique Cardoso, Octávio Ianni, Paul Singer, F r a n c i s c o Weffort, J u a r e z Brandão Lopes, Boris Fausto, Fábio Munhoz e Regis Andrade, assim como à Calo P r a d o J r . e Gabriel Bolaffi, que p a r t i c i p a r a m de seminários sobre o texto. Evidentemente, a nenhum deles pode ser i m p u t a d a qualquer filha or erro deste documento.
1. UMA BREVE COLOCAÇÃO DO PROBLEMA
A perspectiva deste trabalho é a de contribuir para a revisão do modo de pensar a economia brasileira, na etapa em que a industrialização passa a ser o setor-chave para a dinâmica do sistema, isto é, para efeitos práticos, após a Revolução de 1930. O exame que se tentará vai centrar sua atenção nas transformações estruturais, entendidas estas no sentido rigoroso da reposição e recriação das condições de expansão do sistema enquanto modo capitalista de produção. Não se trata, portanto, nem de avaliar a "performance" do sistema numa perspectiva ético-finalista de satisfação das necessidades da população, nem de discutir magnitudes de taxas de crescimento: a perspectiva ético-finalista muito associada ao dualismo cepalino parece desconhecer que a primeira finalidade do sistema é a própria produção, enquanto a segunda, muito do gosto dos economistas conservadores do Brasil, enreda-se numa dialética vulgar como se a sorte das "partes" pudesse ser reduzida ao comportamento do "todo", a versão comum da "teoria do