Livro o prazer do texto
O Prazer do Texto
EDITORA PERSPECTIVA
1987
Coleção ELOS
Dirigida por J. Guinsburg
Equipe de realização – Tradução: J. Guinsburg; Revisão: Alice Kyoko Miyashiro; Produção: Plínio Martins Filho; Capa: A. Lizárraga
Título original francês:
Le Plaisir du Texte
Copyright © Éditions du Seil, 1973
Direitos reservados à
EDITORA PERSPECTIVA S.A.
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1987
La seule de ma vie a été la peur.
HOBBES
O prazer do texto: qual o simulador de Bacon, ele pode dizer: jamais se desculpar, jamais se explicar. Nunca ele nega nada: “Desviarei meu olhar, será doravante a minha única negação”.
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Ficção de um indivíduo (algum Sr. Teste às avessas) que abolisse nele as barreiras, as classes, as exclusões, não por sincretismo, mas por simples remoção desse velho espectro: a contradição lógica; que misturasse todas as linguagens, ainda que fossem consideradas incompatíveis; que suportasse, mudo, todas as acusações de
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ilogismo, de infidelidade; que permanecesse impassível diante da ironia socrática (levar o outro ao supremo opróbrio: contradizer-se) e o terror legal (quantas provas penais baseadas numa psicologia da unidade!). Este homem seria a abjeção de nossa sociedade: os tribunais, a escola, o asilo, a conversação, convertê-lo-iam em um estrangeiro: quem suporta sem nenhuma vergonha a contradição? Ora este contra-herói existe: é o leitor de texto; no momento em que se entrega a seu prazer. Então o velho mito bíblico se inverte, a confusão das línguas não é mais uma punição, o sujeito chega à fruição pela coabitação das linguagens, que trabalham lado a lado: o texto de prazer é Babel feliz.
(Prazer/Fruição: terminologicamente isto ainda vacila, tropeço, confundo-me. De toda maneira, haverá sempre uma margem de indecisão; a distinção não será origem de classificações seguras, o paradigma rangerá, o sentido será