Livro: Os Sentidos da Vida
Flávio Gikovate
Médico psiquiatra formado pela USF em 1966. Pioneiro dos estudos sobre sexualidade e amor em nosso país. Trabalha como psicoterapeuta e é autor de diversos livros de sucesso sobre as principais questões relativas à felicidade humana.
Introdução
Meu pai era um homem muito inteligente e culto. Idealista, foi um dos muitos intelectuais que, nos anos 1930, se encantaram com os projetos sociais do comunismo. Era uma pessoa boa, dotada de senso de justiça e atormentada por sentimentos de culpa por ter prosperado mais do que a média dos que, como ele, vieram para o Brasil no início do. Século XX. Morreu em 1979 e passou os últimos anos de vida em permanente depressão, em parte porque muitos dos seus ideais, tanto no campo pessoal como no campo social, mostraram-se inviáveis. Foi com ele que aprendi a ter sonhos e ilusões acerca da vida. Foi com ele também que percebi o quanto os mesmos sonhos - ao se afastarem demais da realidade poderiam nos lazer infelizes.
Meu pai, que foi um sonhador, já mais velho, repetia muitas vezes a seguinte pergunta: "Por que todas as utopias desembocaram em práticas totalitárias e cruéis? Ou seja, por que as belas idéias acabaram por gerar resultados concretos tão distantes delas?". Entre os vários exemplos que citava em favor desse ponto de vista, o que mais repetia era o do comunismo (meu pai foi um dos primeiros a denunciar em nosso país o lado violento desse sistema). Não renunciou jamais aos seus ideais, de modo que, diferentemente de muitos outros, continuou participando de outros movimentos de esquerda. Não abandonou suas convicções, mas tentou atualizá-las para aproximá-las da realidade. Nunca conseguiu ver com toda a clareza a resposta para a sua pergunta. Nunca teve coragem de constatar que não basta que as idéias e os ideais sejam belos e nobres. É necessário que estejam em sintonia com a realidade, com o ser humano tal qual ele é.
Fui educado dentro desse espírito