literatura
Autor: Franz Kafka
Resumo / Comentários
O período de abertura - “Gregor Samsa despertou, certa manhã, de um sonho agitado, viu que se transformava, em sua cama, numa espécie monstruosa de inseto.” – apresenta com rara economia de palavras e a extraordinária força que tem as coisas simplesmente ditas, uma situação que sabemos absurda, cientificamente impossível, mas que nos transfixa, compelindo-nos a aceitar aquela realidade. Gregor Samsa acordava de um pesadelo, não continuava mergulhado nele, note-se bem.
Tomando por verdadeira (como efetivamente o era para ele) tão horrível situação, constatar-se-á, logo, que a história a partir daí se desenvolve num plano de absoluto realismo, com uma precisão de pormenores não somente plausíveis, mas até mesmo banais. A tragédia de Gregor Samsa, que conserva lucidez humana até o fim de sua medonha provação, é vivida por ele e pelos demais membros de sua família, bem como por aquelas pessoas que, de um modo ou de outro, antes se ligavam à sua existência monótona, como problema constrangedor, incômodo e inescapável, que deve ser equacionado e depois resolvido em termos práticos.
A admirável técnica com que a escrita dá conta da tarefa de se impor, coloca diante de nós sem adjetivos ou rótulos, sem comentários e sem compaixão, sem obedecer a esquemas políticos preconcebidos ou a conceituações sociológicas, atmosfera da vida burguesa que domina uma casa e uma família iguais a milhares e milhares de outras.
As figuras do Pai (a um tempo dominador e mesquinha), da Mãe (simplesmente patética em sua condicionada bondade e em seu total alheamento de outro mundo que não seja o do terra-a-terra), da Irmã ( que passa de calorosas reações afetivas à fria tomada de decisões) e da Empregada (que tem coragem pragmática para agir quando os demais covardemente titubeiam), podem ser arquétipos, mas assumem aqui o comportamento de indivíduos que enfrentam, como podem, uma situação-limite.
As conseqüências do não