literatura
Assim, sob a «historinha» de Aninhas, mulher sequestrada pelo bispo e resgatada porque o povo, unido ao rei e ao seu herói Vasco, consegue vencer o autoritarismo do personagem, há uma crítica pertinaz que nos chega por meio de um discurso sub-reptício.
É interessante notar, finalmente, o quanto esse «realismo», ou seja, essa crítica ferrenha, encontra-se entremeado pelo sonho, pelo romantismo. Talvez Garrett tenha realizado na literatura o que era, de fato, impossível na realidade: o sonho de ver, um dia, uma sociedade atraiçoada e oprimida driblando, conscientemente, todas as «más inclinações» à sua volta e conquistando os seus direitos.
Como observamos, tais reflexões acontecem nos momentos em que a narrativa pára, ou seja, são instantes em que o narrador se vale da ironia romântica. [...]
Como um homem do século XIX, Garrett utiliza a estratégia da ironia romântica, a fim de que, confrontado com essa obra, o leitor possa refletir sobre as possíveis relações entre a obra ficcional e a realidade concreta ou histórica. Nisso reside, pois, a maestria desse escritor, que conseguiu unir o singelo – a «historinha» de um herói, uma mocinha e um vilão – a uma crítica extremamente pungente.
O Arco de Sant’Ana é um romance histórico que se desenrola no século XIV e que retrata aquilo que se julga ser uma lenda ou anedota medieval. A mesma relata que