literatura
Um presente pode mudar a nossa vida. Mas será que um presente pode também mudar o que somos, o nosso jeito de ser, os nossos sentimentos em relação aos outros ou, principalmente, em relação a nós mesmos?
O presente de Ossanha
O moleque fora comprado bem novinho no mercado. Seu trabalho ia ser brincar com o filho do dono, brincar de todo jeito: jogar dama, soltar pipa, rodar arco que era uma brincadeira muito apreciada naquele tempo e de cavalinho – Ricardo montava e o moleque era montado. Saíam os dois pelo terreiro:
- Upa, upa cavalinho, gritava Ricardo.
O dono do engenho olhava aquilo e esfregava as mãos:
- Esse moleque foi a melhor compra que já fiz, mulher. Olha nosso filho como está feliz! Vai que num domingo de manhã, estando de folga, o moleque entrou no mato para pegar passarinho. Ele pegava um pedaço de pau e passava visgo para o coitado pousar e ficar preso. Naquele domingo porém, o sol já estava no alto e nada...
- Vou lhe ajudar, disse uma voz rouca.
Tinham explicado ao moleque que se ouvisse uma voz rouca longe de casa, tomasse cuidado. Podia ser a onça Gomes ou Quibungo, ou Ipupiara ou o João do Mato.Essas criaturas horrendas tinham lá suas razões para não gostarem de gente.
- Quem é você? – perguntou o moleque. Mostre sua cara.
Quem apareceu foi Ossanha. Usava um cocar e um saiote de penas, mais não era índio. Sua pele era negra, quase azul. Não tinha uma perna e não tinha um olho, perdidos numa briga com Xangô.
No começo de tudo, o criador que se chama Olorum, tinha dado a cada filho uma parte do mundo. Para Ossanha deu a floresta:
- Você cuida das plantas. Umas servem para comer, outras para fazer remédio e outras para enfeitar a casa. Quando alguém precisar, atenda.
O que fez Ossanha? Guardou as plantas só para si.
- Está em falta, mentia quando alguém procurava.
Seu irmão Xangô quando soube, chamou Iansã que cuidava dos ventos:
- Onde já se