literatura
Al. Fabiano de Oliveira dos Santos Matias (SGS/2010)
Era noite. A chuva que caía não dava trégua e se lançava sobre nossa casa torrencialmente. Como sempre acontece em noites de tempestade, a energia acabou. Eu, criança ainda, só poderia estar nervoso e muito assustado; e as estranhas formas tremulantes que o brilho das velas formava nas paredes simplesmente pioravam tudo, o que me levava a perguntar a todo instante:
— Pai, quando a luz vai voltar?
— Em breve, meu filho — dizia meu pai, puxando-me para perto de si.
— Logo, logo a chuva vai diminuir, e a luz vai acabar voltando. Tem que ter paciência.
— Eu queria que a mamãe estivesse aqui
— eu gemi.
— Sim, filho; eu sei. Eu também gostaria muito. Mas, de alguma forma, ela está aqui conosco. Temos de ser pacientes.
Meu pai ficara viúvo muito cedo. Eu não conheci minha mãe, e era ele quem tinha de fazer os dois papéis; ele era muito cuidadoso comigo. Foi por ver minha aflição é que hoje eu tenho certeza de que ele fez o que fez.
Deixando-me sozinho por uns instantes, foi até o quarto e voltou de lá com algo na mão. Reconheci logo o pequeno objeto: era uma caixa de madeira escura que ele mantinha em sua escrivaninha. Eu tinha curiosidade em saber o que havia ali dentro, pois ele já havia me falado que fora vovô quem lhe presenteara com ela ainda em sua mocidade.
— O tempo passa rápido, não é, filho? — ele perguntou.
— Passa papai; que nem flecha, né?
— Pois é. Hoje você já está com dez anos e já é quase um homem, não?
— Sim, papai.
— Pois, então, é hora de lhe passar esse presente.
Naquele momento, ele me entregou a caixa de madeira. Eu já não me aguentava de curiosidade e já ia abri-la, quando ele me fez jurar que eu jamais a abriria sem o seu consentimento. Mesmo contrariado, eu sabia que tinha de obedecer. A luz ainda demorou algum tempo para voltar, mas, de alguma forma, meu medo desapareceu.
Vinte anos se passaram. A misteriosa caixa se manteve em meu