Literatura portuguesa
Encontramos intertextualidade neste soneto de Gregório de Matos, no qual recorre ao tema lírico, com diferentes palavras, de mesmo sentido.
“Sôbolos rios, sôbolas torrentes
De Babilônia o Povo ali oprimido
Cantava ausente, triste, e afligido
Memórias de Sião, que tem presentes.”
Camões, inspirado nas escrituras sagradas, escreveu as formosas redondilhas “Babel e Sião’, que são , como se sabe, uma paráfrase ao Salmo 137. O livro Sôbolos Rios que Vão de António Lobo Antunes, traz como título o primeiro verso da poesia de camões é um romance sobre a vida e a morte, na escrita inconfundível de António Lobo Antunes.
O título dado por Quintana ao seu poema foi tiradoda obra de Camões: BABEL E SIÃO. A palavra "sôbolos" utilizada no poema tem como significado: "sobre o". Eis a estrofe do poema de Camões em que ela aparece:
Sôbolos rios que vão por Babilónia, me achei,
Onde sentado chorei as lembranças de Sião e quanto nela passei.
Ali, o rio corrente de meus olhos foi manado, e, tudo bem comparado,
Babilónia ao mal presente,
Sião ao tempo passado.
[...]
e por aí se desenvolve um longo poema reflexivo e filosófico, que reflete a precariedade do destino; a transitoriedade da vida; a fugacidade do tempo e da beleza;a desarmonia da vida e distância entre o que se vive e o que se sonha.A baixo temos o poema de Quintana:
SÔBOLOS RIOS QUE VÃO
Olha, eu talvez seja esse cadaver desconhecido que avistam sob uma ponte com relativo interesse:
Nem sei mais se me matei se morri por distraido se me atiraram do cais
--- o mistério é mais profundo, muito mais...
Vida, sonho de um segundo
---isso é vulgar mas atroz --- e tenho pena de mim como a que eu tenho de voz...
e sigo todo florido destes nossos velhos sonhos imortais ---o misterioso tão sem fim ---
eu sigo todo florido cadáver desconhecido vogando, lento, à deriva nos rios todos do mundo!
“Mario Quintana in: Esconderijos do