LITERATURA PARA QUÊ?
Paulo Roberto Barreto Caetano
Recreio refinado – uma resenha de Literatura para quê, de
Antoine Compagnon
Paulo Roberto Barreto Caetano
Professor de Literatura do Ensino Médio
Unicamp
A verdade, segundo o poeta William Burtler Yeats, não pode ser conhecida, mas pode ser encarnada. Quanto à sabedoria, eu afirmaria o contrário: não podemos encarná-la, mas podemos aprender a conhecê-la, a despeito de ser ou não identificável com a verdade que talvez nos liberte. (Bloom, 2005, 319).
Lançado em agosto de 2009 pela Editora UFMG, Literatura para quê?, de Antoine Compagnon, possui valor inversamente proporcional ao seu tamanho: diminutas cinquenta e sete páginas discorrem sobre a pertinência do “pensamento literário”, passando por Focault e
Barthes, Calvino e Proust. Numa época em que “a aceleração digital fragmenta o tempo disponível para os livros” (Compagnon, 2009,
21), uma conferência como a que aconteceu no Collège de France no dia 30 de novembro de 2006 se faz extremamente necessária para se pensar acerca da necessidade da literatura em nossas instituições educacionais. O evento, que inaugurava os cursos da nova cátedra de literatura da instituição, foi proferido por Antoine Compagnon, como registra Laura T. Brandini, tradutora da edição.
É nesse contexto que o autor começa sua exposição, discorrendo sobre a possível sucessão da teoria pela crítica literária e, assim, inicia, então, a bem-fundada teorização sobre a (in)utilidade da literatura. Para tal, o autor de Literatura para quê? discorre sobre a capacidade do texto literário em proporcionar uma plenitude de existência. Essa ideia é também trabalhada por Antonio Candido em
A personagem de ficção ao falar da capacidade de concatenação de situações-limites que o romance arrola:
(...) na vida, a visão fragmentária é imanente à nossa própria experiência; é uma condição que não estabelecemos, mas a que nos submetemos.
No romance, ela é criada (...) pelo escritor,