Literatura colonial
Francisco Noa*
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Docente de Literatura Moçambicana na Universidade Pedagógica em Maputo.
Introdução
Falar hoje em literatura colonial constitui, sem sombra de dúvida, um empreendimento verdadeiramente delicado com o seu quid de temerário. Isto, pelas razões que seguidamente se apresentam:
Primeiro, porque há um enorme e generalizado desconhecimento do que seja a literatura colonial, daí verificarem-se reacções de natural estranhamento com indisfarçados sinais de incompreensão.
Segundo, mesmo para os que aparentemente manifestam algum conhecimento sobre a literatura colonial, rapidamente se verifica que assentam em bases precárias e que os levam erroneamente a identificar essa literatura com toda a literatura que se fazia nas antigas colónias.
Terceiro, porque o termo “colonial” desperta alguns fantasmas que têm a ver com sentimentos de culpa, ressentimentos e mágoas ainda latentes.
Quarto, porque para muitos, com esta pesquisa corre-se o perigo de desenterrar questões que não são muito benvindas pela incomodidade que provocam na actual conjuntura em que os discursos, oficiais ou não, são dominados pelo império terminológico da globalização, cooperação, solidariedade, parceria, intercâmbio, encontro de culturas, etc.
Acontece, porém, que este trabalho se insere numa reflexão mais vasta de cariz teórico e analítico1 , em que se procura, essencialmente, fundamentar como
1
Este trabalho integra-se na preparação da tese de doutoramento sobra a Literatura Colonial em Moçambique.
via atlântica
n. 3
dez. 1999
esteticamente se estruturou a idéia da sobreposição tanto civilizacional como cultural dos portugueses em Moçambique, mais concretamente através de uma determinada produção literária, evitando-se, para o efeito, a utilização explícita e gratuita tanto de juízos de valor ético como estético.
Por outro lado, ir-se-á esboçar uma interacção entre essa forma de discurso