Linguistica
A est. 83 é um hino à sensualidade: “famintos beijos”, “mimoso choro”, “afagos tão suaves”, “ ira honesta“, “risinhos alegres” “acompanham” as relações amorosas entre os navegadores e as ninfas. O Amor é, por conseguinte, o maior prémio a que o homem pode aspirar.
Qual a mensagem que Camões pretende transmitir? Através da união entre navegadores e ninfas, o humano e o divino equivalem-se: os deuses não existem, o que existe são homens que, pelo seu valor, se tornam superiores.
A Ilha dos Amores está ao alcance de cada um de nós.
Estrofe 83 e 84
Nos versos seguintes, inundados de lascívia, o relacionamento amoroso entre as ninfas e os portugueses não representa uma orgia desenfreada e desmedida:
Oh, que famintos beijos na floresta,
E que mimoso choro que soava!
Que afagos tão suaves! Que ira honesta,
Que em risinhos alegres se tornava!
O que mais passam na manhã e na sesta,
Que Vénus com prazeres inflamava,
Milhor é exprimentá-lo que julgá-lo;
Mas julgue-o quem não pode exprimentá-lo.
(Canto IX, 83)
É, sim, a realização do amor, do desejo de amar e ser amado. É o momento de glória. Ainda mais, o momento em que o Amor, através do desejo, manifesta-se de forma que, mesmo que por um momento, o mundo recupera sua harmonia, estando livre de toda sorte de desconcerto. Evidentemente há uma entrega aos prazeres da carne, mas é um prazer fruto do Amor, que preenche a alma e purifica. O Amor que deifica homens e humaniza deuses, unindo-os em um só ser, fazendo com que entre eles não haja mais distinção, deixando criaturas humanas e divinas em um mesmo patamar, em uma