LINGUAS
Helênio Fonseca de Oliveira (UERJ)
A questão da padronização da língua e a problemática por ela suscitada vem há muito despertando interesse nos estudiosos da linguagem - cf. Nogueira (1933), Jespersen (1946), Hall (1950), Senna (1953), Andrade (1966), Cunha (1968), Swadesh (1968), Melo (1971), Haugen (1972), Cunha (1984), Cunha (1985), Possenti (1996), Santos (1996), Bagno (1999), Oliveira (1999), Perini (2000), Silva (2000), Britto (2002), Oliveira (2003a), entre outros.
A língua varia, como é sabido, no tempo, no espaço geográfico, no espaço social e de uma situação comunicativa para outra. Existem, portanto, várias “línguas portuguesas”, cada uma das quais é uma variedade do português.
Cada variedade da língua é, em princípio, um código, com seus elementos e regras, por maior que seja a semelhança entre esses códigos. Porém, não é tão simples como possa parecer, à primeira vista, a tarefa de isolar e descrever tais variedades, porque não há fronteiras rígidas entre elas. Haverá sempre um componente de arbitrariedade em qualquer divisão que se faça, entretanto a descrição lingüística não pode prescindir de tais divisões.
A migração de trabalhadores de baixo nível salarial de uma região pobre para um grande centro, por exemplo, pode transformar um dialeto geográfico em social. O código usado pelas gerações mais velhas e o empregado pelas mais jovens são na verdade variedades diacrônicas muito próximas. Muitos elementos e regras do registro informal utilizados pela camada culta da população ocorrem também nos dialetos sociais das camadas ditas “incultas”. Além disso, tende a existir certa correlação entre escrita e formalidade, por um lado, e entre informalidade e fala, por outro.
Esse entrecruzamento de dimensões dificulta o estabelecimento de limites precisos entre a coordenada social e a geográfica, entre a etária e a diacrônica, entre dialetos sociais e variações de uso