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"Dinheiro Queirmado", por exemplo, lançado pela Cia. das Letras, Piglia nos faz lembrar da novela "É Sempre Noite", do francês Leo Malet, aludindo também aos filmes de Quentin Tarantino. Já com o romance "O Último Aurélio ou o Cadáver Adiado", publicado pela Rocco, Antenor Pimenta apresenta uma narrativa que aponta seu parentesco estilístico com "Cem Anos de Solidão", do colombiano Gabriel García Márquez. A exemplo de Saramago, Pimenta desenvolve uma narrativa que tem uma de suas raízes fincadas no barroco. Longe de desvalorizar a obra em questão, esse tipo de referência demonstra que a história que se conta, não importa qual seja, já foi contatada e recontada inúmeras vezes por diversos autores em vários países em diferentes épocas e das mais variadas maneiras. Hoje, numa visão pós-moderna da arte, o que importa é como o autor realiza sua obra. É justamente no manejo da palavra escrita que se situa a grandeza da arte romanesca nos tempos atuais. Fora isso, qualquer outra consideração de ordem estilística já não tem tanto sentido fora do enfoque acadêmico. O próprio advento da informática com todas as suas inovações, que vão da
Internet ao livro eletrônico - tecnologia que já está sendo industrializada nos Estados Unidos - nos obriga a repensar vários conceitos sobre criação e criatividade, ética e estética, plágio e originalidade. Talvez isso nos leve a compreender melhor o que o gênio Guimarães Rosa quis dizer ao declarar que o importante não é o escritor, mas a escrita. Na visão de quem nos deu "Grande Sertão: Veredas", um autor é apenas uma sombra a serviço de forças superiores que muitas vezes até ele mesmo desconhece.
Jorge Fernando dos Santos é jornalista, escritor e compositor.
Trabalha no jornal Estado de Minas como editor do Núcleo de Revistas e