Linguagem
João Cabral
A partir do momento em que se constituiu como ciência autônoma, a lingüística passou a estudar internamente a linguagem. A maioria dos lingüistas não mais se preocupou com as relações entre a linguagem e a sociedade, não mais cuidou das vinculações entre a linguagem e os homens que dela fazem uso. Sua preocupação básica passou a ser a análise das relações internas entre os elementos lingüísticos. Estabeleceu assim a chamada lingüística estrutural. Experimentou ela, nas últimas décadas, duas situações distintas e até mesmo antagônicas: fastígio e declínio. Numa certa época, foi tomada como "ciência-piloto" das demais ciências humanas. Lévi-Strauss, Dumézil, Lacan, Barthes e outros teóricos tomaram os conceitos da lingüística e transladaram-nos para outros ramos do saber. Mais tarde, a reação que se operou contra o avassalador domínio dos conceitos da lingüística produz um comportamento oposto. Passou-se a considerar as aquisições da [06] lingüística estrutural, que, sem dúvida alguma, representam um inegável avanço no âmbito dos estudos lingüísticos, como um conjunto de práticas
amente "ideológicas". Os problemas colocados até então pela ciência da linguagem eram considerados falsos problemas. A lingüística estrutural foi chamada lingüística burguesa.
Para os lingüistas chegou a hora de fazer um cuidadoso balanço do que a lingüística fez, deixou de fazer ou pode fazer, pois vive ela uma crise epistemológica. A tarefa é difícil, porque implica uma reflexão ampla sobre a linguagem, que leve em conta o fato de que ela é uma instituição social, o veículo das ideologias, o instrumento de mediação entre os homens e a natureza, os homens e os outros homens. No entanto, é preciso também ter em conta que a linguagem não é uma instituição social igual às outras. Não, ela tem suas especificidades. Perry Anderson, em seu livro A crise da crise do marxismo, diz que