Lindinha
Holmes recostou-se na sua cadeira, juntou as pontas dos dedos e fechou os olhos com um ar de resignação. O Dr. Mortimer virou o manuscrito para a luz e leu em voz alta e entrecortada a seguinte narrativa curiosa do mundo antigo:
- Sobre a origem do Cão dos Baskervilles tem havido muitos relatos, contudo, como eu descendo em linha reta de Hugo Baskerville, e como ouvi a história do meu pai, que também a ouviu do seu, escrevi-a convencido de que ela ocorreu da forma como está aqui narrada. E queria que vocês acreditassem, meus filhos, que a mesma Justiça que pune o pecado possa também com muita bondade perdoá-lo, e que nenhuma condenação seja tão pesada que a não ser pela prece e o arrependimento possa ser removida. Aprendam, então, por esta história a não recear os frutos do passado, mas pelo contrário a ser circunspectos no futuro, que aquelas paixões abomináveis pelas quais a nossa família sofreu tão cruelmente não possam ser novamente libertadas para a nossa perda.
- Saibam, então, que na época da Grande Revolta (cuja história pelo culto Lord Clarendon recomendo muito seriamente à atenção de vocês) este Solar de Baskerville pertencia a Hugo do mesmo nome, nem se pode negar que ele fosse um homem muito violento, profano e sem Deus. Isto, na verdade, seus vizinhos podiam ter perdoado, sabendo que os santos nunca floresceram naquelas paragens, mas havia nele um certo humor impiedoso e cruel que tomou o seu nome proverbial pelo Oeste. Acontece que esse Hugo veio a se apaixonar por acaso (se é que, na verdade, uma paixão tão sombria possa ser conhecida por um nome tão luminoso) pela filha de um pequeno fazendeiro que possuía terras perto da propriedade de
Baskerville. Mas a mocinha, sendo discreta e de boa reputação, evitava-o sempre, por recear o seu