Linchamento
GT34 - Sociologia e antropologia da moral
Quando “pessoas de bem” matam: um estudo sociológico sobre os linchamentos
Danielle Rodrigues de Oliveira
Mestranda do PPGSA – UFRJ roliveira.dani@gmail.com Introdução
O linchamento é um fenômeno complexo que foi por diversas vezes investigado na sociologia, seguindo diversas teorias e chaves de análises, e inicialmente, precisamos esclarecer as origens ligadas a esta palavra. Atribui-se o nome “linchamento” ao coronel
Charles Lynch, da Virgínia, líder de uma organização privada que visava punir criminosos e legalistas, durante a Revolução Americana. A “lei de Lynch” que era praticada por ele deu origem à palavra em 1837, designando o desencadeamento do ódio racial contra os índios e negros perseguidos pelos “comitês de vigilância” que deram origem a organização Ku Klux Klan.
Martins (1996) sustenta que o primeiro linchamento registrado no Brasil data do século XVI, em 1585, Salvador, Bahia. Este nome ainda não era usado, pois só teria surgido no século XVIII nos Estados Unidos, mas esta prática já era recorrente. Os motivos eram diferentes dos dias de hoje, mas a forma era a mesma: um grupo se reúne para punir alguém em espaço aberto, sem que haja a presença de um juiz, nem de provas que fundamentem as suspeitas, baseados em julgamentos súbitos carregados de ódio ou medo. As motivações do século XVI partiam principalmente de conflitos raciais, quando os negros ou índios ultrapassavam a barreira da cor e invadiam espaços brancos. No
Brasil dos anos 2000, apesar da maioria dos linchados ainda serem negros, essa não é a justificativa dos casos, que se mostram como uma tendência conservadora. As motivações do linchamento sofreram transformações, já que ele perde seu caráter de ódio racial para se dirigir a uma questão moral, onde o linchamento é usado como castigo exemplar contra aqueles que tenham agido contra valores e normas que sustentem as relações sociais estabelecidas e reconhecidas por