Licenciado em Letras
Docente: Iris Amâncio Após o período colonial uma nova configuração pôde ser vista na produção literária africana de língua portuguesa, há uma preocupação com a persistência da mentalidade colonialista nos sujeitos que vivem nos países anteriormente colonizados. A literatura imediatamente posterior a libertação se voltou a fazer uma espécie de inventário das perdas e um resgate do que se podia resgatar. Segundo Inocência da Mata (2010), os estudos literários também encontraram novos caminhos que se afastam do biografismo e se aproximaram da teoria literária. Tal mudança ocorreu, pois o estudo crítico se fazia necessário. É partindo de um olhar crítico sobre a literatura que busco pensar, brevemente, a questão da identidade em Terra sonâmbula (Mia Couto, 2007) e no seu papel como expressão do pós-colonialismo. O livro de Couto utiliza a escrita como ferramenta de registo da tradição. Dessa forma, atua como um instrumento de manutenção da memória local. Acredito que antes de pensar criticamente sobre qualquer obra, devemos atentar para o seu enredo de forma geral. A obra estudada narra duas trajetórias, de um lado temos a história de Muidinga e seu tio Tuahir e do outro temos, através dos relatos dos cadernos, a de Kindzu - e sua vontade de tornar-se um naparama. As duas histórias se 'cruzam' no momento em que Muidinga e seu tio encontram os cadernos de Kindzu ao redor de um machimbombo queimado. Logo a leitura dos cadernos - onde Kindzu narra sua vida, sua saída da vila, sua busca por seus sonhos - se torna algo essencial para a dinâmica entre eles, pois se tornou uma forma de se distanciar dura realidade. O 'plot' inicial parece muito simples, mas o romance de Couto é como um quebra-cabeça que precisa ser montado de forma atenta para completá-lo. Como dizia Cortázar, a literatura não é uma máquina diante da qual a natureza se despe, é uma máquina que inventa novas realidades. E é inventando novas realidades que Couto