Liberalismo social
Rodrigo Castelo Branco·1
Introdução
À reboque da ideologia neoliberal, construiu-se um discurso pelo qual defende-se um consenso conservador no debate sobre as desigualdades sociais: primeiro não existiria mais a divisão entre esquerda e direita, e as disputas políticas estariam esvaziadas dos grandes projetos nacionais e populares de transformação social, restritas somente a questões pragmáticas; segundo, todos reconheceriam que as desigualdades devem ser combatidas, mas todos também admitiriam a impossibilidade de superá-las, dadas as diferenças entre os indivíduos: no limite, promove-se a eqüidade e medidas emergenciais, pontuais, filantrópicas e voluntárias de combate à pobreza. Instala-se, assim, uma razão cínica acerca da “questão social”. Esta razão cínica apresenta-se na dualidade entre uma retórica defensora de uma face humana para a globalização e a promoção do bem-estar universal, e estratégias políticas dissimuladas que atentam contra os interesses daqueles que sofrem os efeitos da exploração capitalista. Este é o quadro ideológico do tema da presente comunicação. Já as perguntas-chave que visam problematizá-la são: (i) por que os teóricos da ideologia neoliberal começam uma (tímida) revisão dos seus planos de ajuste macroeconômico e de desenvolvimento, incluindo uma espécie de “agenda social”? (ii) por que medidas de erradicação da pobreza e promoção da eqüidade são defendidas por aqueles que alegam a primazia do mercado na resolução dos problemas sociais? (iii) Ou, por que a temática sobre pobreza e desigualdade, antes restrita às utopias reformistas e revolucionárias, está presente, na era neoliberal, no horizonte intelectual da direita?
I. O neoliberalismo: do receituário-ideal ao social-liberalismo
A trajetória política do ideário neoliberal começa nos países anglo-saxões e depois espraia-se pela Europa setentrional e, após a queda do Muro de Berlim, pela Europa oriental e