Lenda
Era uma vez um frade que andava cheio de fome, na zona de Almeirim. Lembrou-se de ir bater à porta de um lavrador, pedindo alguma coisa para comer, no entanto foi-lhe recusado algo que pudesse aconchegar o seu estomago. Depois foi bater a outra porta e também lhe foi recusado, assim se repetiu em três ou quatro casas.
O frade desanimado olhando para o chão, viu uma pedra e lembrou-se que podia convencer as pessoas a darem-lhe alguma coisa. Pegou então na pedra, lavou-a e foi bater a outra porta.
O lavrador abriu a porta e procurou:
LAVRADOR: - Que quer?
FRADE: Tem uma panela com água que me empreste, para fazer um caldo com esta pedra?
O lavrador e a sua mulher soltaram uma gargalhada, mas com alguma curiosidade deram-lhe a panela com água e deixaram-no pô-la em cima do lume.
O frade mexendo a água com a pedra começou por pedir:
FRADE: - Se tivesse um naco de enchido é que ficava bem. A mulher do lavrador deu-lhe o naco de enchido.
FRADE: - Com um pedaço de unto é que o caldo ficava a primor! A mulher do lavrador deu-lhe o unto, o frade juntou o unto e disse:
FRADE: - Se tivesse um pouco de feijão catarino ficava uma maravilha. A mulher do lavrador deu-lhe o feijão. O frade juntou o feijão, provou e disse:
FRADE: - Umas pedrinhas de sal é que ficavam bem. - Se tivesse uns olhinhos de couve, ficava tão bom que até os anjos comeriam. A mulher do lavrador foi à horta e trouxe-lhe duas couves lavou-as e deu-lhas.
O frade ripou-as com os dedos e deitou as folhas na panela. Quando os olhos já estavam aferventados, arriscou:
FRADE: - Ai! Um naquinho de presunto é que lhe dava graça!
Trouxeram-lhe o naco de presunto. Ele colocou-o na panela e, enquanto cozia, tirou do alforge pão e arranjou-se para comer com vagar. O caldo cheirava tão bem que já o deliciava. Comeu e lambeu o beiço até que arrotou de satisfação. Depois da panela vazia, ficou a pedra no fundo.
Os donos da casa, que estavam com os olhos nele,