Leite Derramado - Resenha Crítica
Autor: Chico Buarque de Hollanda
Lançado no início de 2009, Leite Derramado chamou a atenção não só por ser “filho” de Chico Buarque, mas também por ser a volta do compositor, ora escritor muito talentoso, aos romances desde o consagrado Budapeste, do ano de 2003. Chico mais uma vez teve os olhos de atentos leitores e admiradores de sua obra voltados ao novo lançamento, muito aguardado. Ele não decepcionou. Em Leite Derramado, o monólogo de um ancião em seu leito de morte se estende ao longo de todo o livro. Este é Eulálio Montenegro d’Assumpção, um ex-aristocrata do Rio de Janeiro de 100 anos, descendente da alta sociedade carioca do século XVIII e que, por conta das mazelas da vida e descuido do destino – e principalmente, segundo ele, por Amerigo Palumba, seu ex-genro, acabou perdendo toda sua riqueza e fortuna. Um velho que desliza o olhar sobre sua longa vida, tecendo comentários muitas vezes de forma mordaz e ferina. Os primeiros relatos são sobre a família, sobre a adolescência ao lado de filhos de escravos, das corridas pela propriedade da família e, claro, do primeiro amor. Os acontecimentos anteriores, como lembranças remotas e confusas de pouco tempo aproveitado no colo de sua mãe são totalmente ofuscadas pela grande chegada da mulher amada. Desde cedo, o romance deixa bastante claro que se trata de uma história de amor, de um homem e uma mulher, o resto acaba por ser moldura para essas lembranças doloridas que só primeiros amores são capazes de causar. Esse primeiro amor atende por Matilde, que o narrador se apressa para definir como “moreninha”, “pele quase castanha”. A definição é acompanhada por comentários racistas que soam de forma natural, retratando bem as tradicionais famílias brancas e elitizadas nos tempos de escravidão. Nesse momento, o narrador parece se enganar e é aqui que o leitor se vê a postos de um traço de seu caráter não muito compreendido por ele. Pouco antes de conhecer