Le cirque du soleil
“A JUSTIÇA É DEMOROSA, BURRA E CEGA”.
PERCEPÇÕES DE FAMÍLIAS SOBRE A DIMENSÃO
JURÍDICA DOS CRIMES DE ABUSO SEXUAL
LIANA FORTUNATO COSTA
Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília
MARIA APARECIDA PENSO, TÂNIA MARA CAMPOS DE ALMEIDA E
MARIA ALEXINA RIBEIRO
Universidade Católica de Brasília
RESUMO
Buscamos discutir aspectos relativos à experiência que famílias, em situação de abuso sexual, tiveram no trato com a justiça, no contato com o juiz e com os sentimentos decorrentes das decisões judiciais. Estas famílias têm grande dificuldade de compreender o andamento do processo, a burocracia e uma linguagem jurídica sempre muito inacessível. As entrevistas foram realizadas nos domicílios de oito famílias com renda de um a dois salários mínimos e baixa escolaridade. A análise das informações se constituiu num processo de construçãointerpretativa (análise de conteúdo). Quatro zonas de sentido emergiram: “Os juízes sabem o que é certo e errado”; Posição frente ao Juiz: “Nele, eu posso confiar”; O processo é demorado e Minimização do problema, descrédito na criança e abandono da família. As famílias, por falta de conhecimento de seus direitos, colocam ênfase na penalização do infrator e vêem o Juiz como aquele em quem se pode confiar cegamente.
Palavras-chave: Psicologia clínica, abuso sexual, Psicologia jurídica, justiça restaurativa, família.
ABSTRACT
“JUSTICE IS SLOW, STUPID AND BLIND”. FAMILIES’ PERCEPTIONS ON THE JURIDICAL DIMENSION OF
SEXUAL ABUSE CRIMES
We intended to discuss aspects related to the experience that families, in sexual abuse situation, had in dealing with the justice, in the contact with the judge and with the feelings provoked by judicial decisions. These families had great difficulty to understand the progress of the process, the bureaucracy and juridical language, always very inaccessible. The interviews were made with eight families with an income of one