Lazer na área médica
criação
Morgana Masetti 1
Quem dá conselhos a um homem doente adquire uma sensação de superioridade sobre ele, não importando se eles são acolhidos ou rejeitados. Por isso há doentes suscetíveis e
Juan Esteves
orgulhosos que odeiam os conselheiros mais que a doença. (Nietzche, 2001, p.198)
Os Doutores da Alegria são uma organização artística do terceiro setor, que desde os anos 1990 leva o trabalho de atores profissionais para dentro de hospitais. Utilizando a figura do palhaço que acredita ser médico e realiza “exames” e “consultas”, o artista passa a fazer parte do dia-a-dia das enfermarias, visitando duas vezes por semana todas as unidades em que há crianças e adolescentes internados e interagindo, também, com seus acompanhantes e profissionais do hospital. Em 1991, Dr. Zinho, palhaço pioneiro, possibilitou com essa iniciativa que muitas crianças vissem pela primeira vez um palhaço e uma intervenção teatral. O hospital, então, passou a experimentar fronteiras no mínimo não usuais a sua realidade, reinserindo questões da vida à rotina asséptica e controlada.
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Psicóloga, coordenadora do Centro de Estudos dos Doutores da Alegria Formação e Desenvolvimento.
Rua Alves Guimarães, 73 Pinheiros - São Paulo, SP 05.410-000
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Interface - Comunic, Saúde, Educ, v.9, n.17, p.453-8, mar/ago 2005
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CRIAÇÃO
Naquela época, a figura do palhaço era algo absolutamente incomum ao cenário das macas e enfermarias. Graciosamente destoante, habilmente desconcertante e não ameaçador. Uma imagem que propunha aos adultos que cruzavam seu caminho um tempo de reflexão para tentar aproximar o mundo médico ao do circo. Isso representava algo novo em uma época em que o pensamento médico evoluía em alguns conceitos. Evoluir? Na ocasião não pensávamos nisso, o programa precisava sobreviver em um contexto ainda dormente para investimento em ações culturais. Entretanto, a semente encontrou um solo propício. Dra.