Lavoura arcaica
Já a partir de seu enredo, Lavoura arcaica começa a tumultuar: um jovem, André, sai de casa fugitivo do rigor do pai e da paixão por sua irmã, Ana. De volta para casa, ele trava uma longa conversa com seu irmão mais velho (uma espécie de sucessor do pai), permeada por uma série de conflitos que vão se desdobrar e refletir na própria estrutura do texto. Uma estrutura densa, capaz de adentrar as superfícies movediças de temáticas como religião, família, incesto, sem se deixar engolir pelo previsível. Raduan Nassar cria uma linguagem nova baseada em textos da Bíblia e do Alcorão, em que o poético se funde ao dramático para construção de um romance que pulsa no sentimento do novo.
Um estudo da obra nassariana intitulado Uma Lavoura de Insuspeitos Frutos, Renata Pimentel Teixeira chama atenção para o caráter desnorteador de Lavoura arcaica. Uma obra que pula a cerca das classificações e corre livre no campo do variado. À primeira vista poderia até ser chamada de romance, mas sua estrutura circular, sua linguagem poética e sua carga de dramaticidade vão além do que se espera desse, em sua formulação tradicional. O texto nassariano é, pois, uma obra de múltiplos gêneros. É romance por sua base mestra no encadeamento de episódios. É teatro por dirigir o vigor do texto para as personagens. É poesia por suas ricas metáforas, uso de aliterações, repetições e sinestesias.
Lavoura arcaica é a fala de André, sua ambigüidade é a de André, e da mesma forma sua indefinição é reflexo do não-enquadramento do André em um padrão. E como André está em todos da sua casa e ao mesmo tempo não está em nenhum, o texto nassariano não se fecha em um só gênero já que passeia por muitos.
A obras é sem dúvida um romance