Análise de Lavoura Arcaica
No trabalho anterior (“A leitura e a não-leitura”) foi defendido o ponto de que o leitor tem seus desejos de leitura – e não-leitura –, acomodando-se, de acordo com seus gostos – definidos por suas leituras anteriores –, em seu horizonte de expectativas, tornando-se inculto em relação às leituras que não fez, sendo que este nunca deixará de fato de ser inculto, uma vez que por mais que leia haverão ainda muitas leituras não feitas. No trabalho que agora segue será discutida a leitura diante do paradoxo formado na contradição de que, ao mesmo tempo em que cada leitura é única, todos os textos são “iguais”.
Seguindo pelo conceito de aporia, presente e exemplificado, aqui, pelo livro de Raduan Nassar, Lavoura Arcaica, na dificuldade, na contradição entre dois juízos, que se mostram entre o pai e o filho, compõe um impasse, tal este presente na relação texto x leitura. Ao passo que seu pai impõe suas regras e ensinamentos, André rompe com estes, mostrando-se não ser o próprio e nem ser como o pai; ser diferente, avulso deste. O mesmo acontece com as leituras que fazemos: ao mesmo passo que cada indivíduo, com sua subjetividade, interpreta diferentes textos de diversas maneiras, tais textos são nada mais nada menos que imitações, um dos outros – um “tecido de citações”, segundo Roland Barthes, em “A morte do autor”.
Sendo assim, o texto e a leitura, apesar de ser algo que pode facilmente ser confundido, não são uma só coisa, mas sim duas coisas distintas. Fazendo uma analogia com o livro Lavoura Arcaica, podemos estabelecer uma comparação entre a leitura e o texto e André e seu pai, partindo de que o texto seria a ferramenta que oferece a ordem e o sentido, cabendo à leitura ser livre a esbanjar de quaisquer interpretações deste mesmo, assim como as personagens; ao passo que André é “moldado” pelo pai, este mesmo foge do molde e rompe com a situação, se libertando disto, sendo diferente. O texto