Latim na conteporaneidade
Gilson Magno dos Santos** A língua latina forjou uma continuidade cultural, que dura mais ou menos três mil anos. Ela constituiu-se como a fonte de um grandioso patrimônio espiritual e cultural, pelo qual o Ocidente se distingue na sua tradição antiga e cristã. Tem sentido, ainda hoje, fazer-se a mesma pergunta feita por Renzo a Dom Abbondio, no célebre romance de Manzoni, Promessi Sposi: — Che vuol che io faccia del suo latinorum? sobretudo, quando essa se põe no contexto de uma sociedade globalizada, com a cultura técnico-científica dominante? Não se deve exprimir uma preocupação meramente conservadora, uma nostalgia dos laudatores temporis acti, mas a convicção de que a língua latina tem hoje mais do que nunca uma relevância na cultura contemporânea. Numerosos são os sinais confirmadores da nossa proposição. Entre eles, o mais eloqüente é o conjunto das línguas românicas, o mais atuante e vivo legado de Roma à nossa civilização. Elas conservam vestígios indeléveis de sua filiação ao latim no vocabulário, na morfologia, na sintaxe, etc. Primeiramente, a língua latina foi o dialeto da Cidade de Roma (sermo urbanus). Ela permaneceu língua culta de toda a Europa, durante muito tempo, depois que deixou de ser falada. Foi veículo da cultura e das relações diplomáticas entre as nações européias. Tornou-se a língua universal da Igreja Católica: na liturgia e nos documentos oficiais. Na Botânica, na Zoologia, na Medicina, no Direito, na Teologia e na Filosofia encontram-se, não só uma terminologia de identidade científica em língua latina, mas, também, um amplo cultivo do latim. Segundo FARIA (1958, p. 2), com o esfacelamento do Império Romano, o latim, que era falado em seu vasto território, passou a se desenvolver,
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Conferência realizada em 17 de abril de 2008 na Academia de Letras da Bahia, por ocasião de sua sessão ordinária mensal. Prof. Dr. de Língua e Literatura Latina da Universidade Federal da Bahia - UFBA.