karlinha
João Machado1
Levi Marques Pereira2
Resumo
O presente artigo aborda as implicações entre a atribuição de nomes de parentelas e o pertencimento de objetos e territórios considerados sagrados pelos Kaiowá. A abordagem é realizada a partir do modo como tais elementos aparecem nas práticas religiosas kaiowá, na trajetória histórica das parentelas e nas modalidades de assentamento. A pesquisa foi realizada entre lideranças religiosas que atualmente vivem nas aldeias Bororó e Jaguapirú da Terra
Indígena de Dourados, embora a maior parte dessas lideranças tenha sido transferida para o atual local de residência a partir da expropriação de seus territórios de ocupação tradicional. O artigo procura demonstrar como, na percepção dos xamãs, os nomes atribuídos às parentelas e a relação de pertencimento dos objetos sagrados estão intrinsecamente imbricados com os locais nos quais se radicaram no passado e que também foram palco de realizações de rezas e rituais. Dessa forma, o território de ocupação tradicional se apresenta balizado por referenciais próprios à cultura kaiowá, que envolvem a tríade aqui identificada: a) aos nomes dos líderes de maior expressão nas parentelas; b) aos objetos de uso ritual, de pertencimento exclusivo de cada parentela, enquanto módulo organizacional que também atua como um grupo de reza, e; c) aos territórios de fixação das parentelas. O artigo incorpora temas e discussões que extrapolam os estudos tradicionalmente desenvolvidos pelos especialistas em povos de língua guarani, denominados de “guaraniólogos”.
Palavras chave: Kaiowá; terras indígenas; religião kaiowá
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Mestrando em linguística, UFGD
Professor de antropologia, UFGD
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Ao longo do século XX os Kaiowá que vivem em MS perderam a maior parte das terras de ocupação tradicional para as frentes de expansão agropastoris. Nesse