KARL POLANYI NOSSA OBSOLETA MENTALIDADE MERCANTIL
MERCANTIL (*)
Karl Polanyi
NOTA PRÉVIA: O importante artigo de Karl Polanyi foi publicado em
Portugal pela RTHI-Revista Trimestral de Histórias e Ideias no seu primeiro número de 1978, nas Edições Afrontamento (Porto). Esta excelente revista era então dirigida por Armando Trigo de Abreu e Artur J. Castilho Neves As vicissitudes da edição em Portugal fizeram infelizmente desaparecer a RTHI após alguns números. A publicação neste site é também uma homenagem à revista e ao trabalho dos seus directores de então.
A.T.
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Este primeiro século da Idade da máquina chega ao seu fim num ambiente de medo e agitação. O seu fabuloso sucesso material deve-se à pronta e até à entusiástica subordinação do homem às necessidades da máquina. O capitalismo liberal foi com efeito a resposta inicial do homem ao desafio da Revolução industrial. Para criarmos condições para a utilização de uma maquinaria elaborada e poderosa, transformamos a economia humana num sistema auto-regulado de mercado, e moldamos os nossos pensamentos e valores na base desta inovação única e singela.
Hoje começamos a duvidar da verdade de alguns destes pensamentos e da validade de alguns destes valores. Fora dos Estados Unidos, já não se pode quase dizer que o capitalismo liberal continue a existir. Como organizar a vida humana numa sociedade de máquinas é uma questão que de novo enfrentamos. Por detrás do tecido velho e gasto do capitalismo competitivo, surge o portento de uma civilização industrial, com a sua divisão do trabalho imobilizadora, estandardização da vida, supremacia do mecanismo sobre o organismo, e da organização sobre a espontaneidade. No seio da própria ciência surge o espectro da insanidade. Eis o problema que precisa ser resolvido.
Um simples regresso aos ideais do século passado não basta para nos indicar o caminho. Temos de desafiar o futuro, embora isso nos possa obrigar a tentar deslocar a indústria da posição que ocupa na sociedade de modo a que o factor