Kant
No início da Idade Média houve a dissolução das estruturas antigas (isto é, gregas e romanas), caracterizando um esquecimento dos conhecimentos platônicos e aristotélicos, rejeitados na Grécia após o domínio do rei macedônico Alexandre. Com o movimento patrístico, que teve como expoentes Santo Agostinho e São Tómas de Aquino, e com a retomada do contato do ocidente após a dominação árabe na Península Ibérica, houve um resgate desse pensamento, tanto no sentido de fundamentar algumas teorias quanto de crítica e elaboração de outras doutrinas.
Nesse contexto e com o desenvolvimento da ciência moderna, Immanuel Kant volta a tratar do pensamento de Aristóteles, discutindo questões até certo ponto análogas, existindo a criação, entretanto, de outro sistema de moralidade. Kant, dessa maneira, consolida o próprio sentimento moderno, marcada pela busca da razão e da natureza humana como ponto de partida para as discussões filosóficas, jurídicas e políticas.
Distinções entre Kant e Aristóteles
Embora seja necessário aprofundar na ideologia kantiana, pode-se citar, a título de introdução, algumas diferenças entre as duas doutrinas:
➢ O caráter prático do pensamento aristotélico está ligado à axiologia (isto é, à atribuição de valores) e a teleologia (ou seja, ao seu caráter finalístico). Já Kant possui uma noção deontológica (ligada à noção de dever).
➢ A felicidade aristotélica possui um conceito amplo, caracterizando-se como a realização-plena do indivíduo, resultado de uma vida virtuosa. Consiste no reflexo do hábito, isto é, na tomada de ações que visem o bem comum e que seguem o desejo racional, isto é, a boulesis. O conceito kantiano é, entretanto, mais restrito, remetendo ao bem-estar, à satisfação e à segurança, ligando-se às inclinações. Possui um ideal aproximativo, uma vez que não é possível atingir todas as inclinações.
➢ Há uma relação necessária entre a moralidade e felicidade para Aristóteles. Já a doutrina de Kant não vê a