Jornalismo Literário
Confesso que não estava com o mínimo entusiasmo de fazer aquela reportagem. Meio de novembro, 3 horas da tarde, um calor de aproximadamente 32 graus e a vontade enorme de se livrar daquela pauta. A única coisa em que pensava era nas férias em Porto Seguro que eu tanto sonhava. “Eu pisei na folha seca e ouvi fazer chuá, chuá chuê chuê chuà”. Do lado de fora já se escutava coro de uma catinga de roda de capoeira acompanhado do som dos atabaques e berimbau. As aquelas vozes me contagiaram de tal forma que, não sei o porquê, a partir daquele momento tive uma sensação diferente. A garganta secou, o coração bateu um pouco mais forte. Pressenti que teria uma grande surpresa ao entrar naquele lugar.
Toco a campainha e logo em seguida o barulho de chaves abrindo aquele portão grande azul escuro de ferro. “Boa tarde! É aqui que fica o Napne?“, disse meio trêmula e gaguejando. “Sim. Ah, você a estudante de jornalismo, não é?”, disse em voz alta, devido as cantorias na aula de capoeira, a pedagoga Janaína Ruiz. Napne é a sigla que significa Núcleo de Atendimento a Pessoas com Necessidades Especiais. Pelo que Janaína me explicou, é uma organização não-governamental, sem fins lucrativos, que visa o desenvolvimento bio-psicossocial de pessoas. “O Nosso lema é acreditar no potencial dessas pessoas especiais que é imenso”, disse. O lugar atende portadores de deficiência mental, com as mais diversas síndromes. Para Janaína, a experiência trabalhar e conviver com portadores de necessidades especiais é um aprendizado e um presente de Deus. “Estou satisfeita e fazendo o que gosto. Cada dia é um aprendizado. Mesmo sem saberem, eles nos ensinam como enxergar beleza nas coisas mais simples da vida”. Enquanto eu e Janaína andávamos por um corredor, ela ia me contando um pouco da história da entidade. Descobri que o Napne existe há 14 anos e recebe uma verba da Prefeitura que não é o suficiente para cobrir os gastos da entidade. Em parceria com a