jean

Para alguns, o início pode ser visto em claras memórias. Para outros, há uma névoa espessa que cobre cada fato ocorrido nos primeiros dias. Para mim, nem tão nebuloso, nem perfeitamente claro. Explosivamente, chegamos. Começo da semana, início de ano. Princípio de uma nova vida, ruptura de um mundo civil para o militar. Neófitos, prematuros e imaturos na caserna. Entrar em forma. Descansar se cansando. Posição de sentido, sem sentido algum para muitos de nós. Os guizos sempre existem: sabem um pouco ou muito sobre o militarismo, mas quase todos não sabiam nada, quase nada. Vestidos com algo apelidado de "bichoforme"; maneira carinhosamente estranha de chamar algo que nos massificava, fazia iguais. Nos caracterizava como alunos, dignos de aprendizado, estampava nossa inexperiência. Continências ansiosas, permissões para entrar e sair que exalavam nervosismo, meia voltas desequilibradas. Parecia impossível ajustar cada detalhe, naturalizar o que agora é nossa rotina. "Em forma não se mexe", os superiores hierárquicos ressaltavam. Por instantes achei que era humanamente impraticável, mas o tempo ensina como ouvir longos discursos sem mexer o globo ocular, sem deixar um mosquito ou o suor nos desconcentrar da postura. Cada dia equivalia a uma semana, aprendemos muito em pouquíssimo tempo. O conhecimento parecia extenso, mas com o discorrer do calendário, ficou claro que ele cabe dentro de cada um de nós e ainda deixa espaço para mais aprendizagem. Mudamos. E nessa de modificar, atiramos, progredimos, rastejamos, arranchamos, marchamos, palestramos, pernoitamos, enlouquecemos e encontramos a lucidez. Nessa jornada, fomos acompanhados por muitos; pessoas que estavam no mesmo mar, mas levados por um barco diferente. Eles sabiam o que nos aguardava. Pisavam o mesmo chão e percorriam a mesma distância, no entanto, encaravam os nossos problemas com o olhar da experiência. Nos prenderam sem ceifar a nossa liberdade. Ensinaram e nos deixaram crescer com as próprias pernas.