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740 palavras 3 páginas
JUN
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Platão e sua crítica à danada da poesia

"O que poderia ainda ser dito, após esse breve resumo das questões poéticas que aparecem na República, é que o texto leva os leitores a formularem indagações análogas àquelas que vêm à mente após a leitura do Íon: por que Platão precisa dar tanto peso ao tema da poesia quando, ao que parece, poderia simplesmente ignorá-lo, ou abordá-lo de modo mais passageiro naquele contexto? A resposta, ainda uma vez, aponta para a potência psicagógica da poesia. Segundo o filósofo, o poder da palavra poética sobre a alma humana é dos maiores. Quanto melhor a poesia, quanto mais poderosa e mais eficaz, mais perigosos os seus efeitos. Parece-nos que tudo o que ela fala sobre todas as artes é sabedoria, mas no fundo somente a arte de imitar é possuída pelo poeta. Todas as outras ele domina apenas aparentemente. Logo, a poesia nos engana sobre seu conteúdo colorindo-se, enfeitando-se e tornando-se atraente em sua forma:

Assim, penso eu, do poeta diremos também que, embora nada saiba senão imitar, ele consegue, por meio de palavras e frases, usar as cores de cada uma das outras artes, que outros que são como ele, vendo-as graças às palavras ditas, quer se fale do ofício do sapateiro, ou segundo um metro, um ritmo e uma harmonia, julgam que ele fala muito bem quer sobre a arte militar, quer sobre outra coisa qualquer. Tal é o encantamento que, por natureza, esses fatores produzem! Despojadas das cores da música, ditas só pelo que são, creio que sabes a aparência que as obras dos poetas têm... [PLATÃO. República, 601a3-b3]

Pois bem, nesse ponto do presente raciocínio, o que estamos em condições de ressaltar é, mais uma vez, a forte ambiguidade da relação platônica com a poesia. Não se pretende com isso sustentar que Platão faça, no fundo, um simples elogio à poesia, e que suas críticas sejam apenas aparentes. Pelo contrário, suas críticas são sérias e verdadeiras, e não perdem a força em nenhum dos dois diálogos

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