Iracema
Verdes mares bravios de minha terra natal, onde canta a jandaia nas frondes da carnaúba ;
Verdes mares, que brilhais como líquida esmeralda aos raios do sol nascente, perlongando as alvas praias ensombradas de coqueiros ;
Serenai, verdes mares, e alisai docemente a vaga impetuosa, para que o barco aventureiro manso resvale à flor das águas.
CAPÍTULO II
Iracema virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira. Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas.
CAPÍTULO III
O ancião fumava à porta , sentado na esteira de carnaúba, meditando os sagrados ritos de
Tupã. O tênue sopro da brisa carneava, como flocos de algodão, os compridos e raros cabelos brancos. De imóvel que estava, sumia a vida nos olhos cavos e nas rugas profundas. Quando os viajantes entraram na densa penumbra do bosque, então seu olhar como o do tigre, afeito às trevas, conheceu Iracema e viu que a seguia um jovem guerreiro, de estranha raça e longes terras. CAPÍTULO IV
Quando ele transmontou o vale e ia penetrar na mata, surgiu o vulto de Iracema. A virgem seguira o estrangeiro como a brisa sutil que resvala sem murmurejar por entre a ramagem.
Martim voltou para a cabana do pajé. A alva rede, que Iracema perfumara com a resina do beijoim, guardava-lhe um sono calmo e doce. O cristão adormeceu ouvindo suspirar, entre os murmúrios da floresta, o canto mavioso da virgem indiana.
CAPÍTULO V
Travam as armas os rápidos guerreiros e correm ao campo. Quando foram todos na vasta ocara circular, Irapuã, o chefe soltou o grito de guerra. O irado chefe brande o tacape e o arremessa no meio do campo. Derrubando a fonte, cobre o rúbido olhar:
O jovem guerreiro erguera o tacape; e por sua vez o brandiu. Girando no ar, rápida e