invasoes barbaras
O filme conta a história de um doente terminal, o professor Rémy, que se vê diante da situação de optar pela morte ao sentir as dores tomarem conta de si. Para isso conta com a ajuda dos amigo e inclusive do filho, Sebastien.
Durante o filme se explicita o conflito entre pai e filho que há tempos não se viam e que, em razão das circunstâncias, são obrigados a se reencontrar. Um olhar desatento poderia limitar os horizontes de proposta do filme aos conflitos e dificuldades que envolvem o relacionamento familiar. Porém, esta perspectiva perde de vista o que a obra apresenta de mais fértil e original: um conflito mais amplo entre os ideais e paradigmas das duas gerações em questão.
Rémy, “socialista voluptuoso”, como ele mesmo se define, viveu sua juventude em um período de efervescência política e cultural, marcado por ideais libertários e projetos alternativos de sociedade. Neste clima, ele construiu uma vida caracterizada pela busca de prazeres (vinhos, boa música, livros e mulheres) e pela valorização de relações orientadas por racionalidades que se opunham à ordem dominante.
Já seu filho Sebastien vivenciou um outro período, de crise de projetos alternativos de sociedade, de predomínio quase absoluto da racionalidade instrumental e, conseqüentemente, de um pragmatismo exacerbado, que são expressos na forma como ele age e forja uma realidade mais agradável para os últimos dias de vida de seu pai.
Assim como em toda sua vida, em seus últimos dias, Rémy não consegue se resignar, mantendo-se fiel a suas crenças e valores. Mesmo sofrendo, ele opta por manter-se em um hospital público, pelo qual lutou na juventude, apesar de toda a precariedade em que este se encontra.
É nesse ponto que se pode perceber o embate de dois paradigmas: a visão libertária – porém desacreditada – de Rémy e a visão pragmática de Sebastien. Enquanto o pai se recusa a se transferir para um hospital melhor, privado, seu filho insere a lógica privada no