Introdução aos estudos do livro e da edição: iracema.
José de Alencar, romancista da literatura brasileira, é autor de Iracema, romance indianista, publicado em 1865, e escrito em prosa poética (CANDIDO, 1965), ou seja, utilizando os recursos da poesia em um texto em prosa, tais como a musicalidade e o ritmo cadenciado. Além disso, temos ali as descrições que valorizam o cenário nacional, com a proposta de divulgar os valores, a cultura e as riquezas das regiões do país, assim como a constante identidade do homem com a natureza, mostrada através de uma linguagem metafórica. Cavalcanti Proença em sua biografia sobre José de Alencar, inserida na edição comemorativa cem anos após a primeira publicação de Iracema, escreve:
Em 1848, tem de transferir-se para a Faculdade de Direito de Olinda. Lá, as paisagens evocativas de um passado heróico e as bibliotecas das comunidades religiosas lhe abrem ao espírito as largas perspectivas do romance histórico [...] Aproveitando a proximidade vai ao Ceará; o reencontro com a paisagem natal reaviva-lhe o encantamento pelos índios, a admiração pelo conhecimento que possuíam da terra, íntimos das plantas e dos animais silvestres [...] Mais tarde contará que nessa ocasião se delineiam os primeiros sinais de O Guarani, e também de Iracema. (PROENÇA, 1965).
O autor de Iracema recebeu grande influência do francês Chateubriand e seu romance Atala, de quem resgata a visão aristocrática e a inclinação sentimentalista. (FRANCHETTI, 2007). Mas, apesar de se inspirar nesse modelo europeu, Alencar tentou criar uma linguagem literária brasileira, desgarrando-se das convenções e das regras praticadas pelos portugueses. Ele defendia a idéia de que a literatura brasileira devia ter uma expressão própria, uma linguagem característica, e não ser uma imitação servil de Portugal, pois isso implicaria invalidar nossa individualidade.
Em estudos sobre Iracema de José de Alencar, mais recentemente, se tem discutido o emprego das notas de rodapé (FRANCHETTI, 2007; ABREU, 2011),