Interpretação de Texto - No fundo do mar
LÍNGUA PORTUGUESA: INTERPRETAÇÃO DE TEXTO
No fundo do mar
O Brasil naufraga. A cada dia a situação brasileira muda – em alguns aspectos geralmente negativos – tão depressa que, quando se pensa num artigo para esta coluna, já as coisas degringolaram ou se confundiram um pouco mais.
Portanto, é sempre em parte um tiro no escuro: quem sabe, até sair o texto, mais coisas graves terão acontecido e não consegui, na hora, atualizar? Mas, para isso, a gente que escreve conta com a compreensão do leitor – algo já meio esquisito de pedir, uma vez que nos solicitam “compreensão” para os fatos mais incompreensíveis.
A grande nau com seus 200 milhões de passageiros quase raspa o fundo do mar, onde ficará atolada se não tomarmos medidas. E nós, os comuns mortais, nós, o povo – porque povo não são só os pobres, os miseráveis, os despossuídos, os abandonados pelo governo, os pobres ingênuos iludidos ou os furiosos campesinos que desfilam com bandeiras e camisas vermelhas, ameaçando com foices sem ver os próprios enganos -, o que nós, o povo, repito, podemos fazer?
Além de tentarmos levar nossa existência e trabalho da maneira mais decente possível, na dura lida para conseguir pagar as contas e manter uma vida digna para a família, e torcermos para que os que mandam no país tomem as providências salvadoras, pouco podemos fazer, a não ser falar, ler, nos informar, e – isto sim – sair às ruas.
Confesso que no dia 15 de março não participei com meus filhos e amigos, e que me dispensei porque, afinal, a cada duas semanas estou com a cara na janela aqui, para milhões de leitores, muito exposta e muito ativa, sem ter de me apoiar na bengala que nos últimos anos uso para trajetos maiores ou mais cansativos, ou para subir alguns degraus.
Mas desta vez prometi a mim mesma, se sair a manifestação de 12 de abril, lá estarei, de bengalinha e tudo, orgulhosa de poder fazer algo mais concreto ainda do que um artigo, pelo bem deste