INTERPRETA O1
Texto 1: A CPI adverte: preço de remédio faz mal à saúde
Os laboratórios cometem aqui o que não cometem lá
Os fabricantes de armas usam a desculpa de que as vendem para a defesa da vida e não para a morte; os narcotraficantes alegam que compra seu produto quem quer, ninguém o obriga. São pretextos no mínimo cínicos, embora se possa ao menos discuti-los. Mas e a máfia dos medicamentos, esses laboratórios e essas farmácias que cartelizam preços, fazem propaganda enganosa, falsificam remédios e empurram pelo corpo do paciente o que querem, não o que ele precisa - qual o álibi deles? Deixar uma pessoa morrer por não poder pagar preços exorbitantes e abusivos ou impingir uma substância inóqua como se fosse um medicamento deveria ser tão criminoso quanto vender drogas - ou pior, porque o traficante ainda enfrenta o risco da ilegalidade; os outros, não, fazem tudo impunemente, dentro da legalidade. Ao falar na CPI dos Medicamentos - não no botequim da esquina -, o presidente da Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), Aparecido Camargo, confessou entre risos de deboche que as farmácias vendem normalmente produtos conhecidos como B.O.: "Bom para Otário". Na gíria marginal da bandidagem, otário é o oposto de bandido. Este vive daquele, em geral um cidadão honrado. Trata-se, portanto, de uma linguagem apropriada para o representante das farmácias. Como disse o ministro José Serra, Camargo "conhece bem a malandragem porque faz parte dessa turma". O Ministério da Saúde resolveu mudar os fornecedores de 11 hospitais no Rio: trocou os laboratórios privados pelos oficiais. Na semana passada constatou que os preços cobrados pelos particulares eram em média 747% mais elevados. A economia em seis meses foi de mais de R$ 3 milhões. Em alguns casos, o aumento atingia 3.012%. Em São Paulo, os genéricos chegaram no início da semana até 55% mais baratos em